Miguel Fernandes, fundador da Flow Technology, software house especializada em sistemas de informação de controlo de produção e qualidade para o setor industrial, aborda a 4ª revolução industrial e o seu impacto no setor agroalimentar, numa entrevista que explora a importância dos novos sistemas MES – Manufacturing Execution System para o aumento da competitividade das fábricas em Portugal.
- Qual o papel da tecnologia na atual situação da indústria alimentar?
A 4ª revolução industrial já chegou. Depois da máquina a vapor, da eletricidade, da produção em massa e dos computadores, enfrentamos agora um novo paradigma liderado pela transformação digital na sua 3ª Plataforma de Inovação de TIC (tecnologias de informação e comunicação), suportada pelas tecnologias móveis, aplicações sociais, soluções de big data, cloud computing, analítica de negócio, sistemas ciberfísicos.
Esta transformação está na origem dos elevados níveis de competitividade, mas também aumento da concorrência global com uma redução substancial das margens de lucro. De acordo com o estudo da Cisco e do International Institute of Management Development, “How Digital Disruption is Redefining Industries”, 40% das empresas irá desaparecer até 2020, devido à incapacidade de se adaptarem à transformação digital.
As implicações desta realidade para as empresas do sector agroindustrial são várias. De modo a conseguir a manutenção sustentável do negócio, tornou-se imperativo considerar os emergentes padrões de controlo da produção e qualidade, aliados à vertente tecnológica. Uma gestão eficaz de unidades produtivas agroindustriais não dispensa a utilização de sistemas de informação que permitam uma maior rapidez na tomada de decisões e consequentes ganhos em competitividade.
De acordo com a MESA International, para a indústria de produção discreta, o sistema que melhor responde a estes requisitos é o Manufacturing Execution System (MES). O MES é um sistema que permite a recolha e análise dos dados do processo produtivo diretamente do chão de fábrica para que sejam analisados pelo responsável de produção em tempo real, ajudando-o a tomar decisões baseadas em factos sobre o que está a decorrer a cada momento em toda cadeia de valor.
- O setor agroindustrial já está consciente do impacto dos sistemas de informação na competitividade?
A sociedade como um todo está cada vez mais consciente e confiante nos sistemas de informação e estes representam cada vez mais uma componente crucial do local de trabalho. A indústria agroalimentar representa um mercado potencial para novos produtos tecnológicos, no entanto estes devem incluir benefícios claros para o utilizador. A importância das tecnologias de informação e comunicação não é discutível. A questão não é se as TIC vão ter um impacto significativo na competitividade da empresa. A verdadeira questão é como e quando se vai sentir o impacto. As empresas que anteciparem a assimilação do poder associado à gestão da informação via TIC, mais cedo assumirão o verdadeiro controlo dos seus eventos. As empresas que não adotem a incorporação de TIC serão obrigadas a aceitar as alterações de negócio iniciadas por outros, colocando-se numa posição competitiva desvantajosa.
Apesar de haver ainda um longo caminho a percorrer, há já muitas unidades fabris do setor agroindustrial em Portugal que têm vindo a modernizar-se. A Flow recebe contactos diários de empresas que procuram atingir níveis mais elevados de maturidade tecnológica e industrial e que para isso pretendem implementar sistemas de gestão da produção como o MES.
- De que forma sistemas de informação como o MES têm vindo a ser adotados pela indústria agroalimentar em comparação com outras indústrias?
A Flow nasceu há mais de 10 anos, sob a marca FoodinTech, precisamente para dar resposta à necessidade de desenvolver um sistema de gestão de produção adequado ao setor agroindustrial. A necessidade era premente e não havia soluções à altura dos desafios do setor.
As empresas a operar neste mercado são fortemente reguladas. As imposições legais e a crescente exigência dos consumidores, condicionam os responsáveis das fábricas de bens alimentares a procurarem antecipar os impactos desta vigilância apertada.
Num setor com cerca de 9 000 empresas e que representa cerca de 4% das exportações de produtos nacionais (dados de 2015, INE), a conformidade com normas internacionais de qualidade, como a HACCP, ISO 9000, ISO 22000, BRC, IFS e legislação nos países de destino, faz com que estas empresas sejam mais ativas na implementação de sistemas de gestão e controlo de produção do que outras indústrias.
Fomos pioneiros na criação de um MES para o setor alimentar em Portugal. Atualmente há mais de 60 empresas, a grande parte no setor agroalimentar, que usam o Flow Manufacturing para controlarem a produção, reduzirem os custos de fabrico e garantirem a total rastreabilidade dos produtos, suportando os sistemas de gestão da qualidade sem recurso a papel.
Marcas como A Poveira, Mirandesa, Pascoal, Manná, Carnes Meireles, Montiqueijo, estão a operar com recurso ao MES da Flow e têm constituído casos de sucesso seguidos por muitas outras empresas em Portugal.
- Que elementos deverá compreender o sistema de informação ideal na agroindústria?
A incorporação de TIC ao nível do sector alimentar é um fator incontornável e fará parte da consolidação do processo evolutivo nos vários e variados processos de gestão dentro da indústria agroalimentar.
Para além da compreensão de conceitos de gestão, é importante que o sistema de informação se revele transparente e flexível. O objetivo é considerar cada fábrica como única, adaptando-se às suas necessidades particulares e não obrigando as empresas a submeterem-se a uma reestruturação incomportável a vários níveis. O sistema deve refletir, de uma forma exata e clara, o modo como se processa a atividade agroindustrial, associando evidentemente as boas-práticas de processos transversais do sector.
No caso da Flow, damos também muita importância ao elemento humano na cadeia de transformação, por isso, o nosso sistema oferece uma interface muito intuitiva de front office no chão de fábrica, que permite aos operadores consultar e registar todas as suas atividades, tais como ordens de fabrico, registos de qualidade e segurança, não conformidades, consumos, incidentes.
Estas funcionalidades, permitem uma visão centralizada, integrada e em tempo real do que acontece em toda a cadeia de valor, controlo de stocks, redução de erros de controlo dos processos e total rastreabilidade.
- O que tem de particular a tecnologia da Flow que a torna especialmente adequada à gestão agroindustrial?
A tecnologia Flow Manufacturing suporta fluxos agroindustriais pela organização das diferentes atividades de produção e transformação em processos. Na prática, a tecnologia interpreta esses fluxos, numa sequência mais ou menos complexa de processos.
Cada processo representa um evento codificado no tempo, que incorpora uma ou mais atividades e é responsável pelo consumo de matérias-primas, matérias subsidiárias ou produtos intermédios, dando origem a produtos finais que são incorporados nas encomendas de clientes.
Assim, o fluxo de produção é organizado em processos logísticos (receções e montagem de encomendas) e em processos produtivos (processos de transformação e embalamento), suportando as operações de receção até à montagem das encomendas do cliente.
Enquanto Manufacturing Execution System, o Flow M assume-se como integrador das outras camadas tecnológicas típicas de um ambiente industrial, ligando automaticamente as soluções ERP das empresas (responsáveis pela faturação, contabilidade, ativos, etc.) com os dispositivos ao nível do chão de fábrica, (balanças, etiquetadoras, sensores, autómatos, etc.), permitindo a recolha e análise de dados de produção em tempo real e em qualquer local
É esta integração de todos estes níveis de uma fábrica e a abordagem à gestão da produção por processos, que faz do Flow M uma tecnologia única para responder às caraterísticas do ambiente produtivo agroindustrial.
- Um dos maiores desafios das empresas agroalimentares, prende-se com a redução de custos de fabrico, devido à pressão da concorrência mundial. Como é que os sistemas de gestão de produção podem ajudar aumentar a competitividade destas empresas?
Os gestores têm duas alternativas ao seu modelo de negócio, a abordagem pelo preço e a abordagem pela diferenciação. Partindo do princípio que grande parte dos produtos alimentares são considerados commodities (produtos-base, mercadorias primárias, que possuem cotação e “negociabilidade” globais) e que a diferenciação é um processo de alto custo, muitas vezes abstrato e para um mercado mais limitado, assumimos que o preço tem atualmente uma relevância extrema na atração do mercado agroalimentar.
A alternativa preço implica elevados níveis de eficiência, o que leva a considerar duas grandes componentes: máquinas e sistemas de informação. A utilização de sistemas de informação pressupõe um controlo sistemático e consistente de todas as atividades envolvidas na produção alimentar. Os sistemas informáticos, ou de tecnologias de informação e comunicação, tornaram-se indispensáveis na garantia de uma boa gestão e organização dos múltiplos e complexos dados envolvidos em qualquer negócio alimentar.
Neste âmbito, um sistema de informação de gestão empresarial inteligível deverá compreender conceitos como:
- Integração automática de dados e de máquinas;
- Adaptabilidade do sistema às diferentes realidades industriais subsistemas;
- Informação em tempo real, onde os dados são disponibilizados imediatamente permitindo uma rápida consulta e tomada de decisão;
- Fiabilidade, que um sistema nuclear na gestão industrial tem que garantir;
- Rápida implementação, que é necessária para tornar os custos e o tempo associado em valores razoáveis.
- O sistema de gestão da Flow, tem uma abordagem muito própria para lidar com a redução dos custos de produção. Em que medida o Flow Manufacturing apoia os responsáveis de industriais neste domínio?
O Flow Manufacturing é um software de gestão industrial MES, que monitoriza e controla todas as etapas do processo de produção em tempo real, integrando equipamentos de chão de fábrica e ERP. Baseado no método de custeio ABC – Activity Based Costing, o Flow Manufacturing permite controlar e gerir a variação do custo de fabrico de cada unidade durante todo o processo de produção, incorporando em tempo real os custos de matéria-prima e subsidiárias, quebras, mão-de-obra, energia, equipamentos.
Segundo a MESA International, a utilização de um MES proporciona uma melhoria média anual de 22,5% no Custo Total por Unidade Produzida.
O Flow Manufacturing permite prever e melhorar a capacidade de ação imediata para que haja um menor desperdício de recursos, diminuição dos tempos de inatividade e maior qualidade da produção. Ao fornecer métricas consistentes e precisas, o Flow indica que equipamentos estão a operar abaixo da média de produção e quais estão a operar acima da média, de modo a otimizar o uso das máquinas industriais e evitar bottlenecks. Como resultado, as taxas de produção e rentabilidade das unidades fabris aumentam. Os gestores passam a ter uma noção exata da performance das operações industriais, em tempo real.
- Além da redução de custos de fabrico, que outras vantagens os responsáveis de produção podem obter de um sistema MES?
A utilização de um sistema de gestão de produção MES como o Flow permite aumentar a produtividade e eficiência ao controlar todos os processos envolvidos na produção, desde a receção da matéria-prima até ao produto final, ajustando os ciclos de produção para que sejam mais rápidos e eficientes.
Ao assegurar a rastreabilidade total da cadeia de produção, reduzir os erros de produção e ao suportar os principais sistemas de qualidade (HACCP, ISO 9000, ISO 22000, BRC, IFS) a utilização de um MES garante um aumento da qualidade do produto final.
A melhoria dos prazos médios de entrega é também de salientar. De acordo com um estudo feito pela MESA International, a utilização de um MES permite uma melhoria média anual de 22% em OTCS (On-Time-Completed-Shipments).
De um modo geral, a agilidade é um dos maiores benefícios que utilização de um MES como o Flow Manufacturing traz às empresas industriais. Aumenta flexibilidade dos processos produtivos, a previsibilidade e a rapidez com que as empresas reagem às variações e contingências de mercado, facilitando a introdução de novos produtos de maior complexidade em menor tempo.